12/03/2011

Ela e Ele ... Fiona e Shrek

Fim de semana. Carnaval. Numa festa como tantas outras. Na cidade. Ela é Fiona. Veio de arrasto. Com amigas. Cinderela. Lisbeth Salander. Pequena Sereia. Está aborrecida. O tempo não passa. Vislumbra outro verdinho. Um sapo? Aproxima-se. Um ogre? Shrek? E esta, hein? Que coincidência. Ele olha na sua direcção. Acena-lhe. Quem diria, uma Fiona na mesma festa? Aproxima-se. Tenta-lhe falar ao ouvido. Demasiado barulho. Gritam. Um com o outro. Não se ouvem. Mudam de estratégia. Contacto visual. E surpreendem-se. Ela conhece aquele olhar. Das manhãs. Ele perde-se naquele olhar. Nas manhãs. Olham-se. Vão mais além. Observam-se. E afastam-se. Sem qualquer palavra trocada. Só olhares. Como sempre.
A Lua mascara-se de Sol. O Sol imita a graçola. Fantasia-se de Lua. A Lua, teimosa, repete o disfarce.
É 2ºFeira. A cidade está meio cheia. Ou meio vazia. Só os duros resistem. Ele espera a sua boleia. Devora o seu livro. Está abstraído de tudo. Ouve 3 Doors Down. Ela aguarda. Pela boleia. Escreve uma mensagem à irmã. Pergunta-lhe pelo Carnaval. Não ouve vozes. Prefere Coldfinger. A boleia faz-se anunciar. Não se distraem. Entram. Por portas opostas. Sem se verem. Ele descobre um bom lugar. À janela. Ao Sol. Esqueceu-se dos óculos. Ela procura um lugar. Ao acaso. Sem largar o telemóvel. Rosa. As opções diminuem. Finalmente foca-se em encontrar lugar. Percorre o espaço. Vê o ex-Shrek. Menos verde. Menos ogre. Mais concentrado. No livro. Senta-se à sua frente. Sem medos. Olha-o. Observa-o. Ele só move os olhos. Focados no livro. Termina a página. Aproveita para um vislumbre rápido do seu redor. Não precisa de ir longe. Mesmo à sua frente. A ex-Fiona. Olha-a. Observa-a. Lê um livro. Acompanha o texto com a unha. Pintada de vermelho. Volta ao seu livro. Juntar letras. Formar sílabas. Construir palavras. Associar a ideias. Agora é impossível. Faz tempo para simular que lê. Quer mudar de página. Levantar os olhos. Ela termina a sua página. Aproveita para o espiar. Parece concentrado. Está demasiado perto. Pode analisar os pequenos pormenores. Como enrola os cabelos quando está distraído com o livro. Nem Ele se deve aperceber. Retorna ao seu livro. Os amores e desamores da protagonista deixam de fazer sentido. As letras parecem-lhe desenhos de crianças. Partilham perfumes. Continuam neste virar de folhas alternadamente. Até se aperceberem que estão no final da sua viagem. Normalmente são os últimos a sair. Um por cada porta. Opostas. Hoje não é excepção. Serão os últimos. O povo ergue-se. Migra em direcção às saídas. Nenhum deles se move. Fecharam os livros. Olham pela janela. Chegam. Levantam-se. E olham-se nos olhos. 1 segundo. Talvez nem isso. Ele dá-lhe licença. Ela agradece. E segue-a. Saem pela mesma porta. Raro. Caminham com o mesmo rumo. Separados por meros metros. Ele atrás. Ela na sua frente. Cada curva é a oportunidade para confirmar que ele ainda está perto. Ele observa-lhe o andar. Carregada com malas. Mulheres. Assim continuam. Ela curva à esquerda e não o consegue distinguir no emaranhado de gente. Entristece. Era apenas coincidência. Caminhavam para o mesmo sítio. Mas não juntos. Quer confirmar. Não pode simplesmente voltar-se. Pensa rápido. Entra num café da moda. Com uma gigantesca janela para a rua. Ele faz a mesma curva à esquerda. E Ela desapareceu. Mas que raios? Não percebe. Como ela, entristece. Passa no café da moda. Distraído. Não repara que uns olhos o observam do seu interior. E continua em direcção ao seu destino. Desiludido. Ela renasce. Ele continuava perto. Alegra-se. Pensa que será tudo aquilo! Toma um descafeinado e retorna à rua. O ex-Shrek desapareceu para uma terra muito, muito distante. A ex-Fiona o esperará. Amanhã. Como sempre...

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