Ela...Ele...Cedinho

Ela madruga. O Sol rameloso. Acabou de despertar. O Sol e Ela. É Verão. Pelo menos parece. Deixou trabalho atrasado. Quer chegar cedo. Bermuda azul marinho. Camisola e sandália branca. Perfuma-se. Agarra os óculos. Pega Oscar Wilde. Escolhe Ella Fitzgerald acompanhada por Louis Amstrong. E sai. Ele madruga. É Sexta. Tem compromissos mais tarde. Precisa de sair cedo. Fato preto com risca roxa. Camisa roxa. Gravata roxa. Tudo roxo. Tudo diferente. Pega nos óculos. Agarra Fernando Pessoa. Opta por System of a Down. Ganha coragem para o desafio calorento que o espera. E sai. Ele não pensa em vê-la. É demasiado cedo. Espera pela sua boleia. Mais movimentado que o seu normal. Segue a rotina. Lugar à janela. Naquela direcção. Paragem. Ela entra. Segue a rotina. Não há lugares. Fica de pé. Pousa a mala no chão. Abre Oscar Wilde. Mas o seu marcador cai-lhe. Apanha-o. E sente que mostrou mais do que habitual. Bermudas largas. Chiça. Olha para trás. Quer ver se alguém reparou. Pára. Sustém a respiração. Ele. Olha-a petrificado. Boca aberta. Expressão de tolo. Mas olhos escondidos atrás das lentes. Ainda não a tinha visto. Estava no flirt com Fernando Pessoa. E quando ergue o olhar, é aquilo que vê. Aguenta coração. Olham-se. Escondidos nos óculos. Ele fecha a boca. Ela volta a respirar. Fernando Pessoa e Oscar Wilde já eram. Estão a 1 metro. Ela coloca-se de perfil. Finge escrever no tele. Ele mexe nas unhas. E vai olhando. Para o seu perfil. Ela sabe. Gosta do seu corpo. Adora os olhares enviados por Ele. A boleia esvazia. Lugares surgem que nem cogumelos. Ela senta-se. E ambos meditam. Concluem o mesmo: afinal levantar cedo dá mesmo saúde....