14/07/2011

Ela. Ele. Bronzeados

A noite passa a dia. Mais um despertar. Ela, bronzeada, espreguiça-se. Desliga o despertador. Sabe-lhe bem acordar com Esperanza Spalding.  Ao mesmo tempo, não muito longe. Ele, bronzeado, foge da terra dos sonhos ao som de Ali Farka Toure. Espera-os mais um dia de trabalho. A contagem prossegue. Menos um dia para dolce fare niente. Menos um dia para ganharem coragem. Menos um dia para se entregarem. Menos um dia para se conhecerem. Menos um dia para o clímax. Ele, como sempre, chega primeiro à boleia. Hoje é kafkiano. Entra, cansado, e desfalece para um dos lugares disponíveis. Concentra-se em Kafka. Ela, acompanhada por Joanne Harris, entra. Alisou o cabelo. Gosta de mudar de visual. Senta-se. Rápida procura pelo espaço. Não o vê. É pena. Queria mostrar-lhe a sua nova Eu. Mas ele viu-a. Observou-a a sentar-se e como rapidamente se focou no livro. Está diferente. Kafka já lhe parece pouco aliciante. Admira-a continuadamente. Ela, concentrada, não mostra o verde dos seus olhos. Está entusiasmada com a leitura. O tempo corre. Ele continua a admirá-la. Quase que se baba. Ela começa a ver as pessoas passar. Chegou ao seu destino. Fecha o livro. Levanta-se e olha para o corredor ver se a fila terminou. Falta um. Ele. Cora. Ele dá-lhe passagem. Ela agradece. Segue-lhe o corpo com o olhar. Sapatos altos verde tropa. Bermudas brancas. Blusa verde tropa. Cabelo solto. Ela sente-lhe a respiração. Ouve o seu caminhar próximo. Saem e rapidamente se afastam. Ela, para a direita. Ele opta pela esquerda. Pensam. Sonham. Meditam. Ela, não tem coragem para o confrontar. Deseja ser confrontada. Teme que nunca possa acontecer. Ele, anseia por confrontá-la, não sabe é quando. Tem receio do que está certo. Uma nega. Quem tomará a iniciativa? Até lá vão passeando os seus corpos bronzeados em frente dos seus olhos gulosos...

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